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Conversámos com a Helena Cotovio da empresa Wordzilla, sobre alguns aspetos da sua profissão, sobre a importância do associativismo e ainda sobre alguns conselhos para a nova geração de profissionais.
APTRAD: Fale-nos um pouco sobre si, sobre como começou a sua carreira e o que é que a levou a escolher esta profissão?
Sempre tive alguma facilidade com as línguas. Costumo dizer que aprendi inglês com os Guns’n’Roses, porque já cantarolava as músicas deles muito antes de ter Inglês na escola. A música sempre esteve muito presente na minha vida e, de alguma forma, deu esse empurrãozito.
Creio que foi no 10.º (algures no século passado), quando tive uma disciplina de técnicas de tradução, que algo despertou em mim. Muito cedo soube que era aquilo que queria fazer. O facto de ter sido eu a pagar os meus estudos e ter aberto um curso de Tradução em Leiria, podendo mais facilmente frequentá-lo, acabou por ajudar a concretizar aquilo que “estava escrito”.
Na licenciatura, conheci a menina dos meus olhos, a interpretação. Parecia que tinha um talento natural e tinha a certeza de que era aquilo que queria fazer, mas entre trabalho e ter de me mudar para Lisboa para fazer a pós-graduação, a tempo inteiro, acabei por ter de desistir da ideia. Não foi em vão. É que afinal havia outra.
Foi na disciplina de Tecnologias de Tradução que aprendi a legendar, com a professora Josélia Neves. Trabalhar no dinossauro Win2020 foi um desafio e eu não sou de recusar um bom desafio. Estagiei numa empresa de tradução e por lá fiquei. Especializei-me em legendagem para surdos, ou Tradaptação, e em novelas brasileiras. Perguntem-me o que quiserem sobre A Favorita ou a Avenida Brasil, eu sei.
Depois, veio a crise. Empresas e tarifas levaram tombos e eu acabei por ter de expandir horizontes, outra vez. Decidi experimentar o meio corporativo. Trabalhei em Madrid, na Cartoon Network. Mas outra oportunidade surgiu e acabei por abrir a minha própria empresa.
No meio disto tudo, comecei o mestrado de Comunicação Acessível, outra vez com a professora Josélia Neves, do qual fiquei apenas com o ano de especialização e no qual aprofundei os meus conhecimentos sobre a Audiodescrição para crianças.
Estes últimos 8 anos enquanto empresária têm sido uma grande aprendizagem, sobretudo, em terapias e dosagem de ansiolíticos. Brincadeirinha…
A verdade é que o facto de já ter trabalhado num canal me permitiu conhecer melhor os meandros da atividade. E saber que o caos e a desorganização são o rei e a rainha da TAV. Aprender a aceitar isso e a dar a cara pelos clientes tem sido um verdadeiro desafio, que poucos compreendem. Felizmente, tenho a sorte de colaborar com os melhores dos melhores, tanto em termos de competência, como de empatia, algo que tanto faz falta nos dias de hoje.
Como gosto de arranjar lenha para me queimar e como adoro traduzir, nunca deixei de trabalhar como freelancer. Tive a sorte de ser uma das primeiras a colaborar com a Netflix e ajudar a preparar o catálogo para a abertura em Portugal. O ritmo destes quase 6 anos tem sido absolutamente alucinante. As plataformas de streaming vieram mudar o paradigma da TAV e a viagem ainda não chegou ao fim.
APTRAD: Como descreveria um “dia normal” na sua vida profissional?
Num dia normal de trabalho, respondo a um milhão de emails, resolvo berbicachos, negoceio prazos impossíveis, refilo com clientes (muito!) e faço revisões ou traduções.
APTRAD: É membro de alguma associação/organização profissional? Se sim, o que a levou a associar-se e, se não, porque ainda não o fez?
Sou membro da Aptrad e da ATAV. Acho que durante demasiado tempo os tradutores não foram vistos, foram tomados como garantidos e as suas necessidades ignoradas. E nem vamos falar dos revisores!… Acho que todas as associações podem ajudar a mudar este panorama, como tal, merecem este apoio. Escolhi estas duas por estarem mais ligadas à TAV.
APTRAD: Pela sua experiência, o que faz um “bom” profissional nesta área?
Creio que só posso falar da área da tradução audiovisual. Além das competências linguísticas e técnicas, um bom tradutor é um ser humano empático e humilde que, por muita experiência que tenha, sabe sempre aprender ou dar o braço a torcer, quando é preciso. Tem de saber ajudar e colaborar. Acho que os tradutores se isolam demasiado e isso não é bom. Acima de tudo, têm de ser responsáveis e saber que há um workflow que depende do trabalho deles. Normalmente, os tradutores gostam de esticar os prazos ou ultrapassá-los, o que resulta noutras pessoas terem de abdicar de noites ou fins de semana, ou até mesmo levar ao cancelamento de emissões, o que pode incorrer em problemas legais com os canais.
APTRAD: O que gosta mais e o que gosta menos na sua profissão?
Adoro o processo criativo de traduzir e legendar, prazer que nos tem sido cada vez mais negado com as novas tecnologias, o que afeta diretamente a qualidade do trabalho.
Não gosto da falta de união e rivalidades mesquinhas. O facto de alguém tentar sempre dar-se bem à custa de outros, desde que comecei a trabalhar nesta área, é algo que nunca mudou.
Também não gosto que pintem as empresas como o inimigo, sem haver um verdadeiro conhecimento de causa na área. As coisas são muito mais complexas do que parecem. As empresas não são nada sem os tradutores, prejudicá-los intencionalmente parece-me contraproducente.
APTRAD: Que conselho daria a alguém que quer tornar-se tradutor e/ou intérprete?
Começar por tirar uma licenciatura e mestrado na área da tradução (porque três anos não chegam!), seguidos de um estágio profissional.
APTRAD: Alguma coisa mais que gostasse de partilhar com os nossos leitores?
Atualmente, paira sobre nós a “sombra” da tecnologia. Muita gente tem medo de que as máquinas nos venham a substituir e que isso afete o nosso sustento. Tenho visto grandes evoluções nesta área, deveras impressionantes. Algo que eu e o meu MS-DOS do século passado jamais imaginaríamos.
Mas eu tenho o vício terrível de ver oportunidades nos cenários mais obscuros e em vez de “sombra”, vejo luz. Vejo um futuro em que o tradutor sofre muito menos de problemas de saúde, porque a máquina nos ajuda nos trabalhos mais repetitivos. Vejo um futuro em que o papel do tradutor é reformulado, mas nunca dispensado. A máquina é complexa, mas não tanto como a nossa cabeça.
Contudo, todas estas evoluções requerem um acompanhamento académico. Por isso, é urgente que se reformulem cursos e se aposte no ensino da pós-edição. É primordial que se aposte no ensino da TAV e dos softwares.
APTRAD: Muito obrigado Helena por ter respondido às nossas perguntas!
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Biografia:
A Helena Cotovio é uma tradutora, legendadora e revisora. Tem uma licenciatura em Tradução/Interpretação (2008) e uma especialização em Comunicação Acessível (2014). Trabalha como freelancer desde 2007. Após uma passagem pela Cartoon Network, como Coordenadora de Materiais Localizados e Dobrados, decidiu dar um passo em frente e criar a sua própria empresa de tradução, conhecida como Wordzilla. Mais tarde, criou também a plataforma de formação Wizzilla, dedicada à formação na área da tradução audiovisual. Desde então, tem colaborado com os maiores canais, distribuidoras e plataformas de streaming do setor.