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Conversamos com a Rita Menezes, sobre alguns aspetos da sua profissão, sobre a importância do associativismo e ainda sobre alguns conselhos para a nova geração de profissionais.
APTRAD: Fale-nos um pouco sobre si, sobre como começou a sua carreira e o que é que a levou a escolher esta profissão?
Percebi que esta poderia ser a minha profissão por volta dos 15 anos, quando tive uma disciplina chamada Técnicas de Tradução de Inglês. Era uma novidade, adorei o que fazíamos. Quando percebi que existia um curso superior em Tradução na minha cidade (Leiria), não tive dúvidas: era por ali o meu percurso.
Para concluir o curso, tive de fazer um estágio. Foi meu primeiro confronto com a realidade: fazer tradução literária, aprender a organizar o meu dia, resolver problemas, encontrar soluções – sentir que era difícil dar conta do recado.
Embora tenha feito alguns trabalhos pontuais logo após concluir a licenciatura, considero que a minha carreira começou no dia em que fui a uma empresa de tradução e legendagem em Lisboa pedir trabalho. Fiz um teste, mostrei que sabia traduzir e legendar (felizmente tinha aprendido no último ano do curso) e consegui trabalho. Na altura, a logística era complicada: ir à empresa buscar a cassete, ver em casa no vídeo que tinha comprado para reproduzir NTSC, traduzir e preparar as legendas em Word, voltar à empresa para fazer a temporização do ficheiro (eu não tinha software de legendagem)… e trazer mais uma cassete para casa. Hoje, é divertido ver quanto o processo evoluiu.
APTRAD: Como descreveria um “dia normal” na sua vida profissional?
A única coisa “normal” nos meus dias é saber que o computador vai ser ligado para eu trabalhar ou estudar. Os horários variam muito. Aliás, para quem não lida bem com a rotina, esta profissão é perfeita. É claro que há sempre um preço a pagar: a incerteza e a consequente ansiedade. Mas é possível aprender a lidar com isso.
Ao longo da minha carreira, a minha relação com a profissão tem mudado muito. Se no início eu era assumidamente viciada em trabalho, a partir do momento em que fui mãe a forma como eu me organizava e as minhas prioridades mudaram. Desde que dedico mais tempo à investigação, é necessário que eu seja muito rigorosa na distribuição do tempo e na organização das tarefas.
Costumo dizer que não tenho horários a cumprir, mas tenho prazos. Há grande flexibilidade nos meus dias. Acordo cedo (motivo: filhos). Às vezes, acordo muito cedo (motivo: prazos). Quando é necessário, respondo a emails antes de me sentar para trabalhar – é a (des)vantagem dos smartphones. Não respondo a emails depois das 19h. Nunca trabalho de pijama. É frequente almoçar a correr (o que não é recomendável). Controlo os meus projetos com um ficheiro Excel, mas a planificação dos meus dias é feita no papel para poder ir riscando e rasurando.
APTRAD:É membro de alguma associação/organização profissional? Se sim, o que a levou a associar-se e, se não, porque ainda não o fez?
Sou membro da APTRAD (Tradução), da ATAV (Audiovisual), da Subtle (Audiovisual), da EST (Estudos de Tradução) e da ESIST (Estudos de Tradução Audiovisual). Associei-me a estas 5 para poder acompanhar melhor o mercado e a academia. Valorizo o associativismo. Quando nos reunimos em torno de interesses comuns, o caminho torna-se mais fácil. Vejo várias vantagens nas associações. Considero que as parcerias entre uma associação e outras entidades costumam ser vantajosas para os associados. Vejo que a troca de ideias entre colegas nos fóruns tende a ser profícua. A partilha de newsletters com informações úteis permite que os associados se mantenham a par do muito que se vai fazendo no setor (por ex., divulgação de novo software, conferências, publicações, etc.). Sempre que precisei de esclarecimentos, por ex., sobre legislação, obtive a ajuda necessária quando a pedi.
APTRAD: Pela sua experiência, o que faz um “bom” profissional nesta área?
Definir o “bom” não é fácil – existe aqui uma grande dose de subjetividade, pois cada pessoa tem o seu entendimento do conceito. Um bom profissional em TAV exibe determinadas competências. No meu entender, podemos falar de competências base e de competências específicas que, aliadas a fatores como a experiência e a especialização, caracterizam este profissional.
Considero que as competências base são as 6 (seis) competências que encontramos definidas na norma ISO 17100, a norma relativa aos requisitos dos serviços de tradução. Vejo estas competências como a estrutura onde assenta o profissionalismo.
Para mim, as competências específicas são competências técnicas e interpessoais. As competências técnicas compreendem, por ex., a capacidade de leitura fílmica e, consequentemente, o entendimento do texto audiovisual enquanto texto multimodal. Este é um texto que tanto condiciona a tomada de decisões como, ao mesmo tempo, estimula a criatividade. As competências interpessoais dizem respeito à empatia, à justiça, à tolerância. Dizem também respeito à capacidade de colaboração, à antecipação de potenciais conflitos e sua possível solução.
APTRAD: O que gosta mais e o que gosta menos na sua profissão?
Gosto da flexibilidade que esta profissão me dá. Gosto de poder aprender com os projetos em que trabalho. Gosto quando os projetos são bem pagos – quem não gosta? Gosto de investigar a minha profissão – gosto de saber que, de algum modo, estou a contribuir para melhorar a profissão e a forma como os profissionais atuam. Gosto de saber que alguém, algures, está a usar as minhas legendas para ter acesso a conteúdos originalmente criados numa língua que não se domina.
Não gosto da incerteza nem de, por vezes, ser difícil prever o dia de amanhã. Não gosto da falta de respeito nem da falta de reconhecimento – seja por parte dos clientes, de outros profissionais ou até do público. Não gosto da espiral negativa dos preços praticados; é difícil aceitar que as tarifas não acompanhem a inflação nem a especialização dos profissionais.
APTRAD: Que conselho daria a alguém que quer tornar-se tradutor e/ou intérprete?
A tradução audiovisual é difícil e exigente. A tradução audiovisual tem sido associada à incerteza. Os processos de trabalho em tradução audiovisual estão sempre a mudar. No entanto, quando algo é difícil e exigente só temos de nos preparar devidamente e nunca esquecer que a aprendizagem constante é inevitável. A incerteza é uma realidade cada vez mais transversal no mercado de trabalho – temos de estar preparados para a mudança, temos de nos munir das ferramentas certas para abordar a mudança. Os processos são reestruturados em virtude da inovação tecnológica, da entrada de novos intervenientes no mercado e da criação de novos serviços (por ex., o respeaking é relativamente recente). Face à reestruturação dos processos, o que fazemos? Aprendemos a fazer as coisas de outra forma. Aquilo que vemos como ameaça poderá ser, afinal, uma oportunidade. Aquilo que vemos como oportunidade exige que estejamos à sua altura.
APTRAD: Alguma coisa mais que gostasse de partilhar com os nossos leitores?
Partilho dois “segredos”. 😊
Tradutores, existem bons revisores. Nem todos os revisores são arrogantes e prepotentes – há revisores justos e tolerantes.
Revisores, existem tradutores competentes. Há tradutores experientes que sabem o que fazem – e fazem-no bem!
APTRAD: Muito obrigado Rita por ter respondido às nossas perguntas!
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Biografia:
Rita Menezes é tradutora e revisora desde 2002. É especializada em Audiovisual e Marketing e tem trabalhado essencialmente em projetos de legendagem e transcriação. Em 2015, criou a marca Read Me. A Rita é licenciada em Tradução, variante de Intérpretes, (2001), pós-graduada em Tradução (2003) e em Coaching (2015) e mestre em Marketing Relacional (2016). Desde 2014, tem estado ligada à formação de tradutores. Atualmente, está mais dedidada à sua investigação de doutoramento em Estudos de Tradução, especialização Tradução Audiovisual.