Tradutores e Intérpretes pelo Mundo – Ana Julia Perrotti-Garcia

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Tradutores e Intérpretes pelo Mundo – Ana Julia Perrotti-Garcia

Conversamos com a Ana Julia Perrotti-Garcia, sobre alguns aspetos da sua profissão, sobre a importância do associativismo e ainda sobre alguns conselhos para a nova geração de profissionais.

APTRAD: Fale-nos um pouco sobre si, sobre como começou a sua carreira e o que é que a levou a escolher esta profissão?

Sempre gostei de escrever, de dar aulas e de pesquisar. Esses três atributos, obviamente, foram me encaminhando para a área de Letras. Tive uma primeira formação, até por pressão familiar, e me graduei em Odontologia, com especialização em Cirurgia Bucomaxilofacial (cheguei a fazer cirurgias e a dar plantões em serviços de traumatologia!!). Mas, aos poucos, fui direcionando minha carreira, fazendo novas formações e me consolidando como tradutora da área médica.

APTRAD: Como descreveria um “dia normal” na sua vida profissional?

Um dia “normal” é aquele que começa bem cedo, a internet funciona, o computador roda bem e não falta luz (risos). Tirando isso, nunca sei o que virá. Um dia estou traduzindo um relatório de cirurgia, de inglês para espanhol, para um cliente de Barcelona. No dia seguinte, posso estar traduzindo um laudo de fonoaudiologia, de inglês para português, para uma agência dos EUA. E no dia seguinte, pode ser uma bula de um novo medicamento, ou um manual de um tomógrafo, pode ser uma pesquisa de mercado para um produto de higiene pessoal, ou mesmo uma campanha publicitária para lançamento de um creme facial. Resumindo: aqui não existe rotina. Cada dia é um novo dia, com novos desafios, e sempre com muito trabalho e pesquisa.

APTRAD: É membro de alguma associação/organização profissional? Se sim, o que a levou a associar-se e, se não, porque ainda não o fez?

Sim, sou membro da APTRAD, por considerar indispensável aos tradutores que tenham português como um de seus idiomas de trabalho. Além disso, por ter muitos clientes nos Estados Unidos, sou filiada à American Translators Association (ATA) e à International Medical Interpreters Association (IMIA). Também pertenço a alguns grupos de pesquisa, como GREAT (Grupo de Estudos de Adaptação e Tradução) e GREPAAD (Grupo de Estudo e Pesquisa em Acessibilidade e Audiodescrição). Acho que é fundamental que o profissional esteja ligado a associações e organizações relacionadas a sua profissão. Isso mostra que a pessoa tem profissionalismo, comprometimento e seriedade em sua forma de atuar na profissão.

APTRAD: Pela sua experiência, o que faz um “bom” profissional nesta área?

São muitos aspectos, todos relevantes, mas vou citar os principais que me ocorrem neste momento. Além, é claro, do amplo domínio das línguas de partida e de chegada, para vencer no mercado de tradução é preciso saber pesquisar, ser ético, dedicar-se à educação continuada e estar sempre prestando atenção a todas as inovações, tanto tecnológicas quanto sociais e linguísticas.

APTRAD: O que gosta mais e o que gosta menos na sua profissão?

O que eu mais gosto na minha profissão é que os clientes não se importam em saber onde você está, quantos anos tem, sua raça/etnia, sua religião, nem mesmo sua aparência física. O que importa neste nosso mercado é a qualidade, a pontualidade e a responsabilidade. Ou seja, como sempre digo, a Tradução é o mundo perfeito, onde só se valorizam aspectos profissionais, sem se importar por coisas ligadas a aspectos fúteis ou irrelevantes ao bom desempenho profissional.

O que eu menos gosto? É o fato de os tradutores não receberem direitos autorais sobre suas traduções. Trabalhamos a vida toda, sabemos que muitos dos nossos textos são reproduzidos por décadas, sendo que nós não recebemos mais nenhum centavo sobre eles, mas todas as demais pessoas envolvidas continuam recebendo. No Brasil, sabemos a história de alguns dos tradutores editoriais mais profícuos, com centenas de livros em seu currículo, que vivem com dificuldade ou, em alguns casos, cujas viúvas e filhos não conseguem nem pagar por uma casa onde possam colocar em exposição a biblioteca herdada.

APTRAD: Que conselho daria a alguém que quer se tornar tradutor e/ou intérprete?

Prepare-se para trabalhar muito, prospectar clientes o tempo todo, pesquisar bastante e estar sempre estudando. Caso algum deste aspectos não te interesse, melhor repensar sua opção profissional, pois cada dia temos que ser melhores, mais dedicados e antenados nas novidades e desafios que a profissão nos apresenta.

APTRAD: Alguma coisa mais que gostasse de partilhar com os nossos leitores?

É importante que os tradutores entendam que fazer cursos e participar de simpósios, congressos e eventos não são gastos, mas sim investimentos. Não só pela atualização e aprendizado, mas também pela oportunidade de networking, ampliação da sua rede de contatos e pela possibilidade de sentir de perto o mercado de tradução em toda sua extensão: dos colegas, aos estudantes, das agências aos clientes diretos. Sendo assim, vamos torcendo para, em breve, estarmos todos liberados para os eventos presenciais, para podermos tomar um café juntos, dar boas risadas, trocar figurinhas e, claro, trocar contatos e estabelecer parcerias!

APTRAD: Muito obrigado, Ana Julia, por ter respondido às nossas perguntas!

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Biografia:

Ana Julia Perrotti-Garcia é uma tradutora brasileira que trabalha também como audiodescritora. Ela é especializada em tradução da área médica, localização de documentos hospitalares e formação de tradutores, atuando com controle de qualidade (QA e LQA). Suas línguas de partida são inglês, espanhol e italiano para português variante brasileira e espanhol. Ana Julia é graduada em Letras Tradução pela FMU de São Paulo, Brasil. Com especialização e doutorado pelo Departamento de Letras Modernas da Faculdade de Letras da Universidade de São Paulo (FFLCH USP) e Mestrado em Linguística Aplicada pela Pontifícia Univerisade Católica de São Paulo (PUCSP). Atualmente, cursa especialização em Audiodescrição pela PUC de Minas Gerais. Ministrante de cursos e palestras no Brasil, Portugal, Irlanda, Inglaterra, Austrália e em diversos estados dos EUA, Ana Julia é autora de mais de quinze livros, cursos, dicionários e obras de referência.