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Conversamos com a Carla Gaspar da empresa Smartidiom, sobre alguns aspetos da sua profissão, sobre a importância do associativismo e ainda sobre alguns conselhos para a nova geração de profissionais.
APTRAD: Fale-nos um pouco sobre si, sobre como começou a sua carreira e o que é que a levou a escolher esta profissão?
O início do meu percurso na área das traduções deu-se quase por acidente. Não fui eu que escolhi a profissão; foi ela que me escolheu a mim. “Quero ser professora de inglês”, dizia eu, desde pequena, e trazia essa vontade para as minhas brincadeiras do dia a dia, quando sentava as minhas bonecas em várias cadeiras e ficava em frente delas a ensinar, simulando o ambiente de sala de aula. Na altura de escolher um curso superior, a minha opção foi o Curso de Tradução, pois entendi que a carreira de tradutor constituía uma opção “mais segura” – poderia, depois de licenciada, ser professora de inglês ou tradutora. Acabei o 12.º ano do ensino secundário e ingressei no curso de Tradução, variante Intérpretes da Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Leiria. E, apesar de sempre ter sonhado ser professora de inglês, acabei por me render à tradução. Foi em 2008 que me lancei como tradutora freelancer a tempo completo, depois de três anos como tradutora freelancer a tempo parcial. Saí de Lisboa, depois de dois anos a trabalhar como tradutora in-house em duas empresas, e voltei para Leiria, onde tudo tinha começado e onde me queria estabelecer como profissional liberal. Comecei a traduzir textos técnicos que, por serem de áreas tão diversas como eletrónica, informática, banca, finanças, farmacêutica, medicina ou marketing, me obrigavam a um trabalho exaustivo de investigação e pesquisa, numa altura em que o Google não era o que é hoje. Foram vários anos de muita aprendizagem individual e um período de grande amadurecimento profissional: conheci aqueles que durante muito tempo foram os meus principais clientes. Foram anos de muito trabalho, num sistema de 24/7, durante os quais não soube o que era ter fins de semana.
APTRAD: Como descreveria um “dia normal” na sua vida profissional?
Não existem dias normais para mim – o que leva a que a gestão da minha agenda e do meu tempo seja, em bom português, um desafio “nada pera doce”. Quando, em 2012, decidi fundar a minha própria empresa em Leiria, estava longe de pensar no que haveria de acontecer pelo caminho até ao ano de 2020, em que simplesmente já não faço traduções (e, não, isso não é culpa do COVID-19). Hoje, troco as palavras pelas pessoas, pelos números (imagine-se: alguém de letras agarrada aos números!) e pela comunicação/nutrição do negócio e das relações com os nossos stakeholders.
APTRAD: É membro de alguma associação/organização profissional? Se sim, o que a levou a associar-se e, se não, porque ainda não o fez?
Sim, de várias e faço-o porque entendo que cumpre vários papéis importantes na nossa profissão: a) mantém-nos atualizados em relação às boas práticas da indústria, b) permite-nos acompanhar e até antecipar eventuais movimentações estratégicas do mercado, c) dá-nos a oportunidade de nos relacionarmos com outros pares e d) permite-nos alicerçar a nossa atividade numa estrutura sólida que transmite mais segurança aos nossos stakeholders.
APTRAD: Pela sua experiência, o que faz um “bom” profissional nesta área?
Vou falar daquilo que não vi ainda ninguém falar e para mim é a “água no deserto” na nossa indústria. Quem abraça este talento não tem, a meu ver, a mínima hipótese de não ser bem-sucedido profissionalmente. Confirmo-o no dia a dia do meu negócio, no dia a dia da minha equipa e pude, eu própria, ser testemunha disso mesmo – falo da skill da EMPATIA como a fórmula mágica, o fator distintivo do profissional que atua na área das traduções. Em termos práticos, todos nós, na vida e na nossa atividade profissional, queremos pessoas que se ponham no nosso lugar, que nos facilitem a vida, que saibam genuinamente calçar os nossos sapatos. Queremos compaixão quando as coisas se tornam difíceis, queremos alinhamento com quem trabalha connosco, queremos perdão quando “metemos a pata na poça”. Na nossa atividade, isso significa que o tradutor que facilita a vida do seu cliente tentando ajudar num projeto com um deadline impossível – em vez de partir logo para as 1001 razões pelas quais esse projeto nem deveria existir – ou que compreende que a agência de tradução, quase sempre, não propõe o prazo ideal e sim o prazo que lhe é imposto pelo seu cliente – em vez de partir logo para as 1001 razões pelas quais esse prazo é estapafúrdio – está em clara vantagem. É esse profissional que o gestor de projetos da SMARTIDIOM – e provavelmente todos os outros – procura na base de dados. Alguém que facilite, que nos ajude a resolver problemas, para que no final de um projeto, de um ano, de muitos anos de parceria e colaboração o nosso trabalho seja, em conjunto, consistentemente melhor do que o da concorrência e nos una numa visão empresarial e organizacional conjunta em torno de um propósito maior: o de, em conjunto e em benefício de ambos, trabalharmos para o sucesso final do nosso – de ambos – cliente.
APTRAD: O que gosta mais e o que gosta menos na sua profissão?
Trabalhar para o bem-estar dos colaboradores da SMARTIDIOM e retribuir-lhes tudo o que fazem pela empresa no dia a dia é o que mais gosto. Vivo para impactar positivamente a vida dos colaboradores da SMARTIDIOM e a vida dos colaboradores das empresas que treino, inspirando-os com o meu exemplo de garra e determinação e reforçando a premissa de que o primeiro passo para uma vida mais feliz e realizada começa com uma simples mudança de mindset: passar a viver para as coisas positivas que nos acontecem e a dar o mínimo de importância possível às coisas menos boas, a não ser para aprender com elas.
Do que gosto menos: desta suposta inimizade que paira entre tradutores e agências de tradução. Não me revejo minimamente nesta forma de pensar e quem trabalha connosco sabe que desde o primeiro dia em que abrimos as portas corremos sempre atrás de uma relação de igual para igual com os nosso tradutores freelancer. Sonho com o dia em que tradutores e empresas de tradução estejam lado a lado nas reivindicações e nas conquistas, sem dramas, sem vítimas nem vilões, apenas reconhecendo que ambos precisam da outra parte para fazer a máquina rolar.
APTRAD: Que conselho daria a alguém que quer tornar-se tradutor e/ou intérprete?
Vou falar em três fatores essenciais que, se trabalhados constantemente, permitirão alavancar o negócio ano após ano e chegar cada vez mais longe:
APTRAD: Alguma coisa mais que gostasse de partilhar com os nossos leitores?
A primeira equipa da SMARTIDIOM tinha apenas quatro pessoas e durante algum tempo fomos apenas quatro pessoas mesmo. Hoje somos 12 colaboradores in-house ajudados por uma equipa de centenas de colaboradores externos. Quando comecei o meu negócio como tradutora freelancer nunca, nunca mesmo, imaginei o que viria por aí. Mas foi preciso arriscar, dar o primeiro passo, confiar mais em mim do que na sorte. Nunca nada realmente valioso acontece connosco sentados no sofá. E aos poucos, os sonhos, pequeninos, vão crescendo e ganhando corpo. E é isso mesmo que nos faz sentido na vida – chama-se VIVER. E há tradutores que são felizes e realizados, que não vivem na penúria e conquistaram a sua estabilidade financeira. Só tens de decidir se queres ser mais um tradutor ou se queres ser “o tradutor extraordinário”. Eu decidi ser a Carla Gaspar, a tradutora de sonhos, e corro atrás deles todos os dias.
APTRAD: Muito obrigado, Carla, por ter respondido às nossas perguntas!
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Biografia:
Carla Gaspar é CEO & CVO do Grupo SMARTIDIOM, uma marca de tradução e localização portuguesa certificada pelas normas ISO 9001:2015 e ISO 17100:2015, com clientes em mais de 35 países. É coach de Liderança Positiva e Alto Desempenho com certificação internacional pela Association for Coaching e criou os Programas de Mentoring Positive Leadership Program (PLP) para Novos Líderes, Women Excellency in Business (WEB) para Mulheres Audaciosas e Grow Your Business (GYB) para Tradutores Freelancer. É formadora certificada nas áreas da Liderança Inspiradora de Pessoas e Cultura Empresarial, Produtividade & Alto Desempenho, Empreendedorismo e Estratégia Empresarial. Foi tradutora estagiária no departamento de “Direito, cidadania, administração e relações externas” da Comissão Europeia, em Bruxelas, e realizou legendagem para surdos e portadores de deficiência auditiva na Rádio e Televisão Portuguesa (RTP), em Lisboa. É licenciada em Tradução pelo IPLeiria e frequenta atualmente o MBA em Corporate Happiness no ISLA Leiria.