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Tradutores e Intérpretes pelo Mundo – Rosário Valadas Vieira

Conversámos com a Rosário Valadas Vieira da empresa Sintagma, sobre alguns aspetos da sua profissão, sobre a importância do associativismo e ainda sobre alguns conselhos para a nova geração de profissionais.

APTRAD: Fale-nos um pouco sobre si, sobre como começou a sua carreira e o que é que a levou a escolher esta profissão?

Comecei a minha carreira de forma inesperada. Depois da Licenciatura o panorama era ir dar aulas de Português. Dado que fui viver para Macau, dei aulas de Português – como Língua Estrangeira – durante um tempo, mas apesar de gostar de ensinar, não era o que sonhava fazer para sempre. Inesperadamente, fui convidada para traduzir filmes, séries e documentários na Televisão de Macau. Voltei para Portugal cinco anos depois e continuei o meu percurso na Legendagem e mais tarde a dar Formação. Tomei-lhe o gosto e já lá vão 36 anos.

APTRAD: Como descreveria um “dia normal” na sua vida profissional?

Na realidade, não diria que há grande normalidade na minha vida profissional. Todos os dias surgem tarefas inesperadas. Raramente consigo sentar-me e estar a traduzir ou a rever filmes ou séries o dia inteiro, com pausa para café ou almoço. Sempre preferi não ter horários demasiado rígidos e, de facto, acabo por ter essa liberdade, mas trabalho muito mais horas do que o desejável. Procuro organizar-me, anotando tudo o que tenho de fazer diariamente, uso os lembretes do calendário do Outlook e uma agenda em papel que tenho sempre ao lado, mas nem sempre consigo realizar todas as tarefas que me proponho.

APTRAD: É membro de alguma associação/organização profissional? Se sim, o que a levou a associar-se e, se não, porque ainda não o fez?

Fui membro da APT, sou atualmente membro da ATAV e da APTRAD, em Portugal, e da Subtle, a nível internacional. Sempre considerei importantíssimo o papel das Associações. Devemos participar em iniciativas que nos ajudem a comunicar mais, visto termos uma profissão que nos isola muito, para aprender com outros colegas, estar alerta para problemas que afetem a classe e mantermo-nos atualizados relativamente a tudo o que diga respeito à nossa profissão. Pela sua experiência, o que faz um “bom” profissional nesta área? Um bom profissional é aquele que tem o desejo de aprender todos os dias, aquele que aceita com humildade uma crítica ao seu trabalho e defende a sua posição, caso creia que a crítica não tem fundamento. Um bom profissional procura fontes fidedignas nas suas pesquisas, deve ser meticuloso, disciplinado e cumprir com rigor os prazos de entrega.

APTRAD: O que gosta mais e o que gosta menos na sua profissão?

Do que mais gosto é da aprendizagem diária com os temas diversificados dos conteúdos audiovisuais a que tenho acesso. Do que menos gosto é da falta de união da classe, o que sempre nos prejudicou, em variadíssimos aspetos, mas sobretudo quando se trata de estabelecer um valor adequado por minuto de tradução audiovisual, que em 2020 ainda não alcançou patamares dignos de um profissional especializado.

APTRAD: Que conselho daria a alguém que quer tornar-se tradutor e/ou intérprete?

É uma profissão interessante e desafiante, aprendemos muito todos os dias, mas também é preciso uma grande dose de calma e sensatez para lidar com imprevistos. Convém procurar o apoio de colegas experientes para não incorrer em deslizes, nomeadamente no que se refere a tarifas; baixar o preço médio de mercado prejudica toda a classe profissional.

APTRAD: Alguma coisa mais que gostasse de partilhar com os nossos leitores?

Gostava de recordar aos leitores, porventura também espectadores, que o tradutor de conteúdos audiovisuais traduz para o público diariamente, ao contrário da maioria dos tradutores ou intérpretes, está por isso sujeito a críticas diretas pelo seu trabalho, nem sempre justas. Só por este motivo já deveria ser pago adequada e proporcionalmente. Acresce a pressão dos prazos e o generalismo das matérias que traduz, sendo a especialização técnica da legendagem um outro fator fulcral, de que depende a boa compreensão da tradução. A medida certa de sintetização e simplicidade da linguagem para apreensão rápida da mensagem não é tarefa fácil, nem rápida. É preciso formação e muita prática.  

APTRAD: Muito obrigado Rosário por ter respondido às nossas perguntas!

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Biografia:

Rosário Valadas Vieira. Tradutora portuguesa. Línguas de trabalho: inglês, espanhol, italiano e francês. Exerce ainda as funções de Revisora e Formadora em cursos de Tradução para Legendagem, desde 1997, em colaboração com a APT, com a Solegendas e mais tarde através da Sintagma. Licenciada em Estudos Portugueses e Ingleses – Línguas e Literaturas Modernas – pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. CPE – Proficiency in English – Instituto Britânico, Diploma de Espanhol – Instituto Cervantes, 5º Nível do Instituto Italiano de Cultura. Bons conhecimentos de francês. Formação em Legendagem na TDM – Teledifusão de Macau, em 1984. Curso de Formação de Formadores (CAP). Curso de Metodologia da Tradução, Curso de Revisão e Qualidade. Conferencista em Seminários e palestrante em várias Faculdades. Diretora-Geral da Sintagma Traduções Unipessoal Lda., desde 1993, empresa maioritariamente ligada à Tradução e Produção de Conteúdos Audiovisuais, efetuando também traduções técnicas, serviços de interpretação e Audiodescrição.