Para recuperar a sua palavra-passe, introduza o endereço de e-mail que utilizou no seu registo e clique no botão "Recuperar".
Receberá, automaticamente na sua caixa de correio, uma nova palavra-passe, que lhe dará novamente acesso à sua página pessoal.
Posteriormente, poderá alterar a palavra-passe recebida por outra à sua escolha (recomendável).
Hoje, conversámos com William Cassemiro, sobre alguns aspetos da sua profissão, sobre a importância do associativismo e ainda sobre alguns conselhos para a nova geração de profissionais.
APTRAD: Fale-nos um pouco sobre si, sobre como começou a sua carreira e o que é que a levou a escolher esta profissão?
Meu interesse por idiomas surgiu muito cedo, meus pais contam que eu sempre “cantava em inglês”. Uma das minhas canções preferidas até me rendeu um apelido: Alonso Baby. Duvido que você descubra qual era a música que eu cantava a plenos pulmões, com meus três anos, todas as vezes que andávamos de ônibus. O atrevimento da criança que achava que falava inglês foi aumentando e, aos 13 anos, algumas amigas pediram e, com a ajuda de um minidicionário Collins, traduzi a letra de Careless Whispers, da banda Wham!. Embora até hoje eu lembre dos erros que cometi, isso fez sucesso entre a garotada e, a partir daí, toda vez que alguém conseguia a letra de uma música em inglês, o que não era fácil na década de 1980, ela chegava às minhas mãos para traduzir. ¯\_(ツ)_/¯ Além do interesse pela língua inglesa, eu também gostava muito de eletrônica, e essa se tornou minha primeira profissão, em nível técnico. O conhecimento em inglês ajudou no desenvolvimento de minha carreira em algumas das maiores empresas de produtos eletrônicos do mundo e, por mais de 20 anos, foi essa a profissão que permitiu pagar os boletos, criar duas filhas e viver com algum conforto. A mudança definitiva para as Letras veio somente em 2005, quando entrei para a Faculdade de Letras da USP.
APTRAD: Como descreveria um “dia normal” na sua vida profissional?
Ainda bem que “dia normal” está entre aspas… Meu dia começa com o cheirinho do café feito automaticamente pela cafeteira controlada pela Alexa, adoro automações! Depois de tomar o café com minha esposa, assistindo a um telejornal, entro no escritório e a primeira coisa que faço é ver a caixa de entrada. Como trabalho para empresas de diversos países, é bem comum ter mensagens com ofertas de trabalho que chegaram durante a madrugada. Respondo, agendo e programo algumas respostas.
O próximo passo é conferir o ToDoIst, meu app preferido para lista de tarefas. Quando acabo essa verificação, na maioria das vezes começo a cuidar das atividades da Translators101, o que toma boa parte da manhã. Após o almoço, é lei: um cafezinho e uma soneca de 30 minutos (confesso que às vezes o despertador não toca…). A parte da tarde é reservada à tradução. Se não houver nada a traduzir, a prospecção e interação no LinkedIn, com foco na tradução, preenchem o tempo. Aos sábados, quinzenalmente, tenho aula na pós-graduação de Gerenciamento de Projetos de Tradução, algo que tem recebido minha atenção total e onde tenho aprendido muito sobre os usos de IA na rotina de agências e profissionais da tradução.
Exercícios físicos estão reduzidos atualmente à natação, duas vezes por semana, antes de começar a rotina.
APTRAD: É membro de alguma associação/organização profissional? Se sim, o que a levou a associar-se e, se não, porque ainda não o fez?
Sou associado à ABRATES, fui associado à ATA e, logo quando surgiu, também à APTRAD. Considero fundamental para quem é profissional estar ligado a pelo menos uma associação da categoria. É em associação que temos mais força para reivindicar melhorias para nossa profissão, conseguir apoio em nossas iniciativas, conhecer outras pessoas da área e criar um networking de valor.
APTRAD: Pela sua experiência, o que faz um “bom” profissional nesta área?
Durante minha participação na diretoria e presidência da ABRATES, aprendi que liderar uma associação é ajudar pessoas interessadas na profissão, que estão buscando melhores condições e mais conhecimento. Com isso, aprendi que em uma área não regulamentada como a nossa, a forma mais segura de uma pessoa se tornar uma grande profissional é por meio da educação continuada e do apoio de profissionais mais experientes. Há, claro, muitas coisas que podemos considerar para definir uma pessoa como uma grande profissional, mas posso citar algumas de dois pontos de vista: das empresas contratantes e de colegas de profissão.
Para as empresas: pontualidade, boa comunicação, qualidade no serviço e ética.
Para colegas de profissão: ética e compartilhamento de conhecimento. Quero discorrer rapidamente sobre a questão que é comum às duas categorias, a ética. Profissional que critica o trabalho de outras pessoas da área em público, que não respeita os termos de seus contratos com as empresas contratantes, que pensa que seu conhecimento é superior ao de todas as outras pessoas e faz de tudo para não compartilhar esse conhecimento, que muitas vezes ele obteve com a ajuda da sociedade; a meu ver, independente da qualidade do texto que produz, não é um “bom” profissional.
APTRAD: O que gosta mais e o que gosta menos na sua profissão?
O que mais gosto em nossa área é o contato com outras culturas, outras formas de pensar e ler o mundo. O que menos gosto é a imprevisibilidade.
APTRAD: Que conselho daria a alguém que quer tornar-se tradutor e/ou intérprete?
Corra de soluções rápidas que prometem formação em nossa área. Há muitos cursos e mentorias oferecidos por pessoas que pouco ou nada sabem da profissão. Procure por cursos com respaldo de instituições e que tenham formado profissionais que podem atestar a qualidade do ensino. Estude. Estude muito. Estude principalmente sua língua de chegada. É lamentável ver um texto profissional, escrito por profissional da língua, com erros crassos, com modismos, estrangeirismos recém-chegados e ainda não “oficialmente” incorporados à estrutura da língua. Sim, a língua é viva, sabemos. É viva, é modificada pelos falantes, ela acaba por adotar como suas as influências de outras línguas com as quais tem contato. Minha posição é que linguistas, em especial profissionais que atuam na produção textual de acordo com as normas culta e padrão, devem manter o uso da língua de acordo com tais normas. Isso não significa fechar os olhos às mudanças, ou mesmo repudiá-las. Há textos e textos e, se aquele que você está traduzindo foi produzido na norma culta ou padrão na língua de origem, cabe a você manter essa característica. Então, por favor, nada de terminar frases com preposição.
APTRAD: Alguma coisa mais que gostasse de partilhar com os nossos leitores?
Quero agradecer a Ana Carolina Ribeiro pelo convite e a todas as pessoas que fazem a APTRAD. Estou sempre à disposição. Foi uma honra colaborar com vocês.
Ah! Para quem ficou na curiosidade sobre a música que me rendeu o apelido de Alonso Baby, aqui vai a resposta: Can’t take my eyes off of you — Frankie Valli
O motivo do apelido, simples: o refrão. ¯\_(ツ)_/¯
Muito obrigado, William, por ter respondido às nossas perguntas!
Para saber mais sobre William Cassemiro e a Translators101, visite seu site em https://hotm.art/t101 e suas redes sociais no LinkedIn [https://www.linkedin.com/in/translators101/] ou Instagram [https://www.instagram.com/translators101/].
Se quiser saber como se tornar um associado da APTRAD, consulte aqui [https://bit.ly/3eTVpK0] ou acompanhe as nossas redes sociais em Facebook [https://bit.ly/32Mrkde], LinkedIn [https://bit.ly/3humLZe], no Twitter [https://bit.ly/30IZICW] ou no Instagram [https://bit.ly/3metM5R].
Biografia:
William Cassemiro é o criador da Translators101. Ex-diretor e ex-presidente da Associação Brasileira de Tradutores e Intérpretes, Abrates, de 2014 a 2018. Tradutor profissional de inglês para português, com Bacharelado em Letras pela Universidade de São Paulo.