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Hoje, conversámos com Nuno Oliveira, sobre alguns aspetos da sua profissão, sobre a importância do associativismo e ainda sobre alguns conselhos para a nova geração de profissionais.
APTRAD: Fale-nos um pouco sobre si, sobre como começou a sua carreira e o que é que a levou a escolher esta profissão.
Bem, o meu percurso teve muitos desvios. Desde que frequentava o liceu que me imaginava a traduzir na varanda, como a minha mãe fazia quando corrigia testes. Tendo ela sido professora de línguas germânicas, influenciou-me muito, e foi ela que me passou o bichinho pelas línguas. Foi também ela que decidiu inscrever-me numa escola inglesa para eu fazer o ensino primário. Com muita pena minha, não fiz o ensino básico lá, passei para o ensino português. Foi um choque muito grande passar de uma escola onde falava apenas inglês, com pouquíssimos alunos, cerca de 25, para outra onde falava quase exclusivamente português e com muito mais alunos.
Depois de a minha mãe falecer, comecei a interessar-me imenso por cinema. O pai de um colega meu do liceu era um grande cinéfilo, com uma coleção, ainda hoje, invejável. Mizoguchi, Ozu, Kitano, Kurosawa, Lynch, tinha tudo dos mais variadíssimos realizadores de tudo o mundo. Comecei, então, a devorar cinema todos os dias. Tornou-se uma obsessão. Mais tarde, decidi entrar para a Escola Superior Artística do Porto e frequentar o curso de Cinema e Audiovisual. Mas os meus sonhos de ganhar uma Palma de Ouro em Cannes caíram por terra ao perceber que simplesmente ainda não tinha vivido o suficiente para me sentir confortável em escrever uma história sincera e não apenas o que o público gostaria de ver. Terminei a licenciatura e comecei a trabalhar em publicidade, coisa que odiei. É um mundo demasiado oportunista. Foi então que comecei a pensar em desistir dessa via e enveredar pela tradução.
Inscrevi-me no Mestrado em Tradução da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, mas não o concluí. Deixei duas cadeiras por fazer. Uma das razões foi ter sentido que o mestrado estava um tanto anacrónico em relação ao mercado de trabalho. Foi só quando comecei a estagiar na Sintagma que aprendi praticamente tudo o que sei agora enquanto tradutor audiovisual. De muitas maneiras, foi uma melhor escola, e, claro, muito mais adaptada às metodologias e exigências do mercado. Estive três anos na Sintagma e depois saí para tentar o freelancing. É aí que me encontro agora e não podia estar mais satisfeito com a minha escolha.
APTRAD: Como descreveria um “dia normal” na sua vida profissional?
Enquanto freelancer, o meu dia a dia é um pouco igual ao de vários colegas. É ligar o PC de manhã e começar a trabalhar. Começo por verificar a minha agenda e ver quais as tarefas que tenho de fazer nesse dia. Normalmente, dedico cerca de seis horas por dia a um ou dois clientes, alternando entre projetos, construindo glossários, procurando mais clientes, etc.
APTRAD: É membro de alguma associação/organização profissional? Se sim, o que a levou a associar-se e, se não, porque ainda não o fez?
Neste momento, sou membro da ATAV (Associação Portuguesa de Tradutores Audiovisuais) e da Subtle, associação inglesa homóloga.
Os motivos pelos quais me juntei a ambas são simples: lutar pelos direitos dos tradutores em Portugal e em termos internacionais. Participo também no programa de mentoria da ATAV, que estou a ajudar a coordenar juntamente com o Renato Barcelos e a Rita Castanheira.
APTRAD: Pela sua experiência, o que faz um “bom” profissional nesta área?
Bem, há variadíssimas coisas que fazem um mau profissional, mas apenas algumas que o tornam bom. Sobretudo, diria que a vontade de evoluir, de aprender, tem de estar no topo, juntamente com a dedicação ao ofício da tradução audiovisual e para com o público do conteúdo que se traduz.
Para além disto, há que tentar ser flexível em relação aos desafios que possam surgir em cada tradução. A transcriação é uma excelente aliada e há que pensar não apenas como tradutor, mas também como escritor. Isto aplica-se, especialmente, à tradução de obras de ficção, a que dou preferência, mas também não deve ser descurada na vertente da não-ficção.
Uma outra coisa importante para mim é fixar-se um preço mínimo e não aceitar menos do que isso.
APTRAD: O que gosta mais e o que gosta menos na sua profissão?
Sem dúvida de que o que mais gosto é a diversidade de temas. Sempre gostei de absorver o máximo possível de várias fontes e a tradução é, sem dúvida, das profissões que melhor permite acesso a variadíssimos temas, desde cinema e música a direito e economia.
Dentro da mesma lógica, a criatividade, sobretudo na tradução de ficção, é também um elemento importante. Sem acesso a ela, teria certamente abandonado a profissão. A transcriação e a plasticidade criativa são, para mim, o que tornam o meu trabalho divertido e não apenas um exercício de acuidade linguística.
Claro que em cada profissão há coisas menos boas e, infelizmente, a tradução tem muitas. A precariedade e os salários baixos, sobretudo, são os principais problemas. Para além disso, para quem é freelancer, como eu, esta realidade pode ou não definir a continuidade na profissão. Há que fazer a nossa própria contabilidade, criar estratégias de marketing pessoal, lidar com os chamados períodos de “fome”, escassez de trabalho, e, para muita gente, a ansiedade que isto provoca é intolerável. E compreende-se porquê. No entanto, quem conseguir uma boa carteira de clientes, que paguem como deve ser, claro, pode encontrar no freelance uma liberdade que trabalhar por conta de outrem simplesmente não tem. Foi uma das razões pelas quais escolhi ser freelancer.
APTRAD: Que conselho daria a alguém que quer tornar-se tradutor e/ou intérprete?
Bem, a receita é simples, e penso que transversal a muitas outras profissões: persistência, motivação, flexibilidade, criatividade, responsabilidade.
No entanto, há que considerar bem, sobretudo em Portugal, as áreas de tradução que vão mais de encontro com cada um. De nada vale pensar que tradução técnica, por exemplo, na vertente de farmacêutica, seria uma boa ideia, em termos financeiros, se não se está preparado para assumir a responsabilidade intrínseca a traduzir bulas de medicamentos. Também há que ter em conta que uma pessoa criativa pode não conseguir dedicar-se muito tempo a áreas técnicas. No entanto, o oposto também é verdade.
APTRAD: Muito obrigado, Nuno, por ter respondido às nossas perguntas!
Biografia:
Nuno Sousa Oliveira é tradutor, legendador, cinéfilo e crítico de cinema. Licenciou-se em Cinema e Audiovisual pela Escola Superior Artística do Porto e trabalhou durante alguns anos como editor de vídeo, videógrafo e fotógrafo. Decidiu, em 2015, aliar cinema e tradução, matriculando-se no Mestrado em Tradução da Faculdade de Letras de Lisboa, onde se especializou em Tradução Audiovisual. Trabalhou em algumas empresas de tradução audiovisual antes de passar a freelance a tempo inteiro. É também um dos cofundadores da ATAV.
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