O freelancer e a gestão do dia-a-dia

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O freelancer e a gestão do dia-a-dia

Gerir a vida familiar e profissional é difícil para um freelancer, principalmente quando se está a começar e quando se é o único profissional na família a trabalhar a partir de casa. Sair da faculdade e entrar numa empresa, seja qual for a área é o “normal”. Se o estudante termina o curso e parece ficar “eternamente” em casa, aos olhos da sociedade não trabalha, quando sabemos bem que assim não é. Um outro fator relevante é que o estar em casa, principalmente quando se é mulher e, de forma acrescida, quando se é mãe, está de certa forma ligado ao tradicional fator “se está em casa não trabalha, fica para acompanhar os filhos e é “dona de casa”, contudo, com isto não quero de forma alguma depreciar a imagem das donas de casa nem das mães que decidem deixar de trabalhar para criar os filhos. Fui mãe há 4 meses e hoje compreendo melhor que ninguém que é uma escolha de cada um, mas também dou mais valor à minha decisão de ter arranjado um espaço fora de casa onde trabalhar, isto porque, como dizia, gerir o estar em casa e o horário para trabalhar é difícil, especialmente quando os filhos entram na nossa vida.

Esta gestão é, por si só, difícil, porque se estamos em casa temos tendência ou a alienarmo-nos do mundo para trabalhar e nem damos conta do tempo passar ou exatamente o contrário, temos tendência a deixar o tempo passar e o trabalho acumula, porque acabamos por ter mil e uma tarefas para fazer em casa para além do “trabalho” propriamente dito e muitas vezes os nossos companheiros ou restantes familiares não compreendem que estarmos em casa não significa que podemos tratar de tudo e mais alguma coisa deixando o nosso trabalho para último, mais ainda quando se trata de crianças que têm necessidades emergentes de leite, colo, mimo, e quando são maiores, brincadeiras, papas, etc. Adicionando a tudo isto o fator “tirar férias”, se é verdade que um freelancer tem uma maior flexibilidade de horários e pode tirar férias quando bem entender, também é certo que existem picos de trabalho e muitas vezes o tradutor acaba por escolher tirar férias num período de “seca” e é quando todos os seus clientes se lembram que ele existe, sendo que normalmente o que o bom do tradutor acaba por fazer é levar consigo para o tempo de descanso em família a parafernália de computadores, redes Wi-Fi, etc. para poder estar contactável e poder trabalhar durante os períodos de descanso no hotel, sendo que acabam por tornar o local das suas férias num local diferente onde trabalhar, o tradutor muda de contexto mas o trabalho é o mesmo.

Então como gerir o seu trabalho e tempo familiar?

Um sábio colega um dia disse-me “há tempo para tudo, tens de saber organizar-te, não vais perder um cliente por tirares tempo para ti e para os teus” e confesso que desde que perdi o medo de dizer não que sou uma pessoa mais feliz, tenho tempo para a família, que agora inclui o meu bebé, sendo que tive de ficar parada de licença por 4 meses. Há algum tempo atrás isso seria para mim um motivo de stress, hoje tenho a certeza que ao voltar ao trabalho os meus clientes lá estarão. Tenho tempo e espaço para a vida profissional, com um espaço e um horário reservado para o mesmo, onde posso trabalhar sem interrupções e quando estou com a minha família estou a 100% para eles.

Biografia:

Chamo-me Ana Honrado e sou formada em Tradução pela Universidade Católica Portuguesa de Lisboa desde 2007. Ao terminar o curso fiz várias traduções para a Editora Plátano o que acabou por levar ao passo seguinte, a publicação do meu próprio livro “Batalhas de um tradutor iniciante” em 2013. Realizei um pequeno curso de Inglês no contexto do Direito na Faculdade de Direito de Lisboa, tenho ainda uma Pós-graduação em Gestão Hoteleira no ISLA, um Workshop em Formação de E-Learning e Project Management, entre outros cursos na área e em 2019 terminei o meu doutoramento em Tradução e Interpretação na Bircham University. Fui palestrante da Abrates no ano de 2015 em São Paulo e, ainda nesse mesmo ano, na Conferência Online da Proz. Antes de abrir o escritório onde trabalho como freelancer, trabalhei em locais como PME’s de tradução, Embaixada da Índia e TAP, assim como em algumas editoras nacionais, empresas de tradução internacionais (como freelancer) e seguradoras de crédito.